Naquela carruagem, não se viu um gesto nem um protesto, não se ouviu um grito nem um alerta. Todos os passageiros continuaram placidamente sentados e tranquilos nos seus lugares, sem que aquela agressão parecesse violentar a sua consciência, ou ofender a sua humanidade. Nenhum deles se sentiu obrigado a intervir, a dizer uma palavra ou a esboçar um movimento que fosse para travar o canalha, que mais tarde se desculpou com a bebedeira e que a polícia acabou por mandar em paz.
Fernando Madrinha in Expresso - 27.10.2007
Espanta-me a ingenuidade de Fernando Madrinha. Será que vive no mesmo mundo que eu? Ainda acredita na fraternidade e no amor ao próximo?
Pois é, estamos chegados à era do "desemerda-te". Estás com uma faca ao pescoço? Não reajas, cede. És vítima de extorção? Cala-te. Estão-te a dar pontapés? Pensa que é só um sonho mau, pois ninguém em teu redor quer levar um por ti. Não há heróis.
Ser herói implica morrer na miséria como Aristides Sousa Mendes, ou cair do esterlato para a padaria, como Zé Maria.
O individualismo a que as nossas sociedades chegaram dá nisto. Não queremos responsabilidades, somos impessoais, pouco comunitários e amigos do próximo. Mesmo que filmes, religiões, política passem a mensagem que "não seres apenas um número" é o mais importante.
Para os que acreditam que essa coisa do comunitário prejudica gravemente a saúde: saibam que a humanidade assim cresceu. Sozinhos, nós humanos tinhamos-nos extinguido.
terça-feira, novembro 06, 2007
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