terça-feira, outubro 31, 2006

"Só queria saber onde é a sala de operações"

Já quase todos ouviram a história: o pai deixou a filha à porta de uma loja chinesa e aguardou no estacionamento. Após uma longa espera, procurou-a no interior da casa comercial, mas ninguém a tinha visto. Num gesto de desespero, chamou a polícia, que, ajudada por cães treinados, conseguiu detectar a jovem. Estava escondida numa zona obscura, de acesso por alçapão, e em várias partes do seu corpo havia marcas enigmáticas. A jovem é libertada... pouco antes de ser "morta para tráfico de órgãos".

in DN - 29.10.2006

Há poucas semanas corria um email com este alerta. No Domingo passado, o DN dedicou, e bem, duas páginas a desconstruir a insinuação tola. Como é que um boato pode prejudicar um sector vivo da economia? Como é que se pode acreditar que em lojas chinesas possam haver salas de operações por baixo de alçapões? Porque é que as pessoas ainda acreditam em mitos urbanos dirigidos de literal má fé?

Interessante peça de jornalismo.

domingo, outubro 29, 2006

Vicente Amigo, o povo está contigo

Pelo menos esteve... em Lisboa até à coisa de uma hora no CCB com o seu septeto.

Grande concerto, de um instrumentista com vasta experiência e não só. Para se tocar assim, não basta ter prática, é preciso ter algo mais e a forma como a guitarra se molda às mãos deste músico é algo raro de se ver. Entre 6 cordas, todos os dedos se mexem em harmonias e notas diferentes fazendo delas um só estilo sonoro: flamenco.

Não sendo número um do flamenco - o nome mais conceituado é Paco De Lucia - Vicente Amigo terá uma abordagem sonora mais forte e ritmada. Pessoalmente prefiro-o ao decano.

quinta-feira, outubro 26, 2006

Há meses, Israel "passeou-se" pelo Líbano

O executivo de Ehud Olmert é um governo fraco; só isso explica as decisões que tomou no início desta crise. Ariel Sharon, que não precisava de mais demonstrações de força, deixou passar provocações iguais ou piores do que os raptos dos soldados israelitas, que aliás não são nada de novo no tabuleiro negocial da região - e
Israel, que já chegou a ter o sequestro oficial legalizado e nesta mesma crise prendeu ministros palestinianos como moeda de troca, sabe disso muito bem. É evidente que o segundo rapto, vindo de território libanês e atravessando a fronteira israelita, foi uma violação grosseira da lei.

Mas daqui não procede que qualquer reacção à ilegalidade seja legal, o que redundaria num mundo sem conta, peso ou medida. Bombardear a capital do país vizinho não é, nunca foi, a reacção legítima a um rapto. Também não é a mais eficaz ou inteligente.

Rui Tavares in Público - 29.07.2006

terça-feira, outubro 24, 2006

Prós e Contras

Só mesmo em Portugal: depois do inicio da "eleição" do maior português dos nossos já oito séculos de história, temos agora outro concurso que quer averiguar o pior português.

É promovido pelo suplemento Inimigo Público e pelo programa da Sic Notícias "O Eixo do mal".

Não votem em mim, por favor.

domingo, outubro 22, 2006

We'll see it in Dois

Aviso à navegação, a primeira curta-metragem de terror made in Portugal, vai passar hoje na Dois. I'll see you in my dreams !

sexta-feira, outubro 20, 2006

Privilégios

"Historicamente, o privilégio é excepcional; dele usufrui uma categoria restrita. Os grandes de Espanha ganharam o privilégio de não tirar o chapéu em frente aos reis. Eram vinte e cinco famílias. A isso é que se chamava, outrora priviligiado. Hoje, chama-se priviligiado a um estudante que não pague o custo total do seu curso ou a alguém que tenha emprego, e este mero facto é a ilustração grotesta de quão baixo e mesquinho descemos na Europa, no período de apenas uma geração. A continuar assim, serão "priviligiados" todos aqueles que não estiverem a morrer de febre hemorrágica em África.

(...)

A verdadeira abolição de um privilégio é, pois, a sua generalização."

Rui Tavares in Público - 29.04.2006

quarta-feira, outubro 18, 2006

Conviersa de la treta!

Quase metade dos espanhóis é favorável a uma união entre Portugal e Espanha

Já faltou mais para o 1 de Dezembro, feriado que celebra a independência perante a "província" vizinha. E vem bem a tempo, para finalizar a palermice de notícias que tem assolado a "consciência Ibérica".

Ele foi a notícia do Semanário Sol da primeira edição em que questionava que uma certa percentagem de portugueses gostava de ser espanhol. Agora é esta notícia.

Reflectamos: quantos "espanhóis" querem deixar de o ser, e começar a ser Catalães, Galegos, Bascos?

terça-feira, outubro 17, 2006

O segredo está na soja

Com ou sem Lula, certo é que a Amazónia continua a perder terreno para a agricultura intensiva.

Ironia das ironias, se há 10 anos os grandes quinhões eram usados para a criação de gado que alimentaria os grandes companhias de "fast food", hoje é a soja que faz render dinheiro.



Os terrenos queimados da maior floresta virgem planetária servem para alimentar individuos que há bem pouco protestavam contra o seu uso para a criação de gado.

O feitiço virou-se contra o feiticeiro.

sexta-feira, outubro 13, 2006

Cíclo vicioso

Mais uma vez, o consenso é o de que o estado da educação em Portugal é catastrófico. Se Vasco Graça Moura diz mata, Vasco Pulido Valente diz esfola, Maria Filomena Mónica desmancha, Miguel Sousa Tavares incinera, António Barreto espalha as cinzas e recomeça o ciclo: os professores são ignorantes, os alunos são violentos, os ministros são dominados pelos sindicatos e os sindicatos sentem prazer em que na escola não se aprenda nada. (…)

Nas raras vezes em que o lamento é acompanhado de dados estatísticos, esquecem-se que só comparados com as séries históricas eles fariam sentido. Claro que o nosso ensino tem problemas e que os resultados são piores do que os da Suécia. Mas a verdade é que a Suécia já pouco analfabetismo tinha há 250 anos.

Rui Tavares in Público – 07.10.2006

quarta-feira, outubro 11, 2006

Boas e más ondas II

Atentos ao fenómeno da comunicação e às suas modificações, a TSF vem com a nova grelha agradar a Gregos e a Troianos.

Há 3 anos Emídio Rangel fez o que lhe pediram. Colocou a rádio com mais audiências e consequentemente, mais fundos publicitários.

A receita foi simples: arrasou com a música; criou programas de fórum à tarde para donas de casa; encontrou um espaço de entrevista para Margarida Marante e Carlos Pinto Coelho; etc. Chamou-lhe renovação.

A TSF de há dois anos para cá vem ao encontro com os que vêm na TSF uma rádio jornal. Respeita a playlist "à lá RFM", mas coloca no ar mais magazines de informação com conteúdos diversificados, sobre temáticas modernas e conduzidos de uma forma dinâmica. No ano passado tivemos o Eureka, o Rádio.com, o Portugal Passado, Pergunta de Ciência, e outros.

Há dias apresentaram nova grelha. Vejo qualidade e diversidade em boa parte dos programas apresentados. Agradam-me o "Sexta-Feira" (com conteúdos da revista 6ª do DN); "Evasões", com conteúdos sobre vinhos, produtos tradicionais portugueses, restaurantes e gastronomia, sugestões de fim-de-semana e eventos e destinos; "A Semana Passada", um magazine semanal de informação de Fernando Alves; o " Mais Cedo ou Mais Tarde" de João Paulo Menezes entre música terá informação sobre cientistas, universitários, divulgadores, entre outros.

Musicalmente, a TSF surpreende com programas que vêm de encontro aos críticos da "ditadura" das listas musicais. " Playlist de... " trará diariamente à antena a escolha sonoras de um convidado. No fim de semana, o "Álbum da Minha Vida" dará a oportunidade de um artista português de falar sobre as suas referências musicais.

Entre programas de géneros habituais, presentes em rádios como a Antena 1, RCP e RR - o debate mensal e semanal, o comentário diário político – estão alguns contra-corrente. A TSF prova que é a novidade, a palavra e a comunicação que prende os ouvintes à rádio. Sem receio de arriscar, faz serviço público.

Morreu a fórmula "mais música e menos palavra" que Emídio Rangel implementou.

terça-feira, outubro 10, 2006

Boas e más ondas

Nas apresentações das novas grelhas da Rádio Renascença e da TSF vejo algumas boas e más ideias. A serem postas em prática neste início de Outubro levar-me-ão, felizmente, a ouvir mais diversidade radiofónica. Hoje opino sobre…

Renascença, a rádio que teve um pássaro na mão e que o deixou voar.

A RR foi líder de audiências durante décadas. Há coisa de poucos anos, bem à portuguesa, decidiram dar azo a "estudos" de audiência. O panorama parecia negro: o público da rádio mais católica de Portugal era cada vez mais envelhecido. Urgia captar ouvintes mais jovens. Olharam para a RFM, playlist para a faixa etária dos 30-50 anos, e viram sucesso e novo modelo. Adoptaram-no. "Mais música (estrangeira), menos (rádio, isto é) palavra". Cortaram com a música portuguesa; com os pivots companheiros das manhãs e das tardes reduzindo-os a "vozes sorridentes" que repetem até à exaustão "temos a melhor música" e que interagem com o público com jogos tão bonitos como o "nem sim nem não" e fazendo a leitura das últimas anedotas que caíram no email. Intercalaram este modelo vencedor, na sua óptica, com a informação de cariz religioso, variada e a desportiva, vertentes ganhadoras do passado.

Em vez de procurar e conquistar ouvintes pela novidade e diferença, os "Miguel Angelos" e Da Vincis" da Renascença, tomaram a decisão mais cómoda: "vamos buscar público à RFM com o modelo que tem vencido desde os anos 80". O resultado está à vista, a sua rádio tem perdido audiência nos últimos trimestres. Tal é o desespero, que nos últimos meses no sítio da rádio abriu um espaço de nome "Consultor Renascença", no qual o ouvinte pode opinar sobre o figurino actual. O grupo que durante anos enfrentou e resistiu à indignação dos músicos nacionais, que com razão protestam contra a falta de música portuguesa nas rádios da companhia, admite agora que programar uma rádio não depende apenas de estudos estatísticos, duvidosos, nem de sábios de rádio.

Vendo o império a desmoronar-se a RR faz a jogada do costume, comunica a mudança e uma nova imagem. Mas falar em mudança, não implica que esta seja realizada. Novamente, afirma o desejo de conquistar públicos novos – os da faixa etária dos 35-54 – quer dar "mais música e menos palavra" aos ouvintes e mais humor. Com a nova imagem, vem a nova assinatura "a Boa Onda da Rádio", mas o produto não sofre alteração. Mesmo o apregoado "aumento de interactividade" já existia no "tomo" da Renascença. Com poupa e circunstância, apresentaram um programa novo e reafirmaram a linha que seguem há 5 anos.

Nem falemos da música que se passa. O ouvinte não é um vegetal mas as rádios com playlists rígidas e cansativas, como a RR e RFM, tratam-no como tal. Talvez por isso a rádio tem perdido ouvintes para podcasts e outros meios. Hoje em dia, novos públicos fazem os seus próprios canais de comunicação.

À Renascença não falta mais humor, mais música, mais interactividade. Falta melhor rádio. O público está cansado dos modelos que dominaram nos anos 80 e 90, prova é que a Rádio Comercial, embora dedicada a uma faixa etária menor, tem comido fatias de ouvintes à RFM… com mais humor, mais interactividade e mais música. Embora para faixas etárias diferentes, mas com uma cultura que vai de encontro ao seu público.

sexta-feira, outubro 06, 2006

quarta-feira, outubro 04, 2006

Que lixo?

A lógica editorial, percebemos hoje perfeitamente, não é diferente da que governa a televisão e os jornais: o lixo atrai o lixo e partir de certa altura todo o circuito (edição, distribuição, comercialização) não consegue alimentar-se de outra coisa, não tem tempo nem espaço para funcionar de outra maneira

Antonio Guerreiro in Actual - 16.09.2006


Reacções: é o mercado, estúpido! Em pleno no século XXI!, é uma situação inadmissível!

Pensar assim o panorama, não vai fazê-lo retroceder aos saudosos tempos em que os livros "nobres" ocupavam os escaparates. Esse tempo já lá vai. Vivemos noutras ânsias: o mercado dá o que o mercado escoa.

A qualidade, só por si já não faz milagres. A vida dos leitores alterou-se. Vive-se em velocidade, a "falta de tempo", o digital fazem com que não seja já o gosto geral da populaça a literatura pesada (em contraste com o termo light).

A quantidade disparatada de livros editada em Portugal, o marketing e o investimento em visibilidade, fazem com que, dizem os entendidos, tenha chegado a crise ao sector livreiro. Por outras palavras, foi sector que já deu bom lucro e que agora, nem quantidade nem qualidade faz milagres para tantas marcas "á mangra".

A dita "literatura de qualidade" tem de ir para as montanhas resistir, contentar-se com os clientes que tem e, sobretudo, trabalhar na sociedade para procurar novos.

terça-feira, outubro 03, 2006

Ninguém, ninguém…



Como o mercado dos gestores não tem como referência o vencimento do primeiro-ministro, ninguém com capacidade será atraído para as empresas públicas.

Baixa o vencimento, mas baixa a qualidade dos gestores, o que significa piores resultados que todos nós pagaremos. Não pagamos o vencimento, mas suportamos o prejuízo da empresa que é bem pior.

Manuela Ferreira Leite in Expresso Economia – 16.09.2006

"Demagogia cara" era o título do texto da ex-Ministra das Finanças, o qual se referia à opção do Governo de limitar os ordenados dos cargos superiores da função pública. Para mim, a citação em cima que o resume, é mesmo uma constatação. Ferreira Leite faz, uma vez mais, demagogia de velho do Restelo.

Não acredito que seja escasso o número de bons gestores e que arranjem todos tenham colocação no "dinâmico" mercado privado português.

Mais, quero acreditar que a saída desses "bons do reino", irá criar oportunidades a gestores jovens, ou a outros arredados por não terem cartão rosa ou laranja, de se desenvolverem e darem melhor rumo a empresas estatais.

Foi o trabalho de gestores públicos de elevadas capacidades, ou de elevados ordenados, que quase fechou uma RTP ou uma Tap. Dinheiro mal gasto, pelos vistos bem empregue na opinião de Ferreira Leite.

domingo, outubro 01, 2006

Vai uma "gaitada"?

Hoje comemora-se o dia Mundial da Música. Decido celebrar a criatividade da música nacional, passando em revista o CD daquela que é, para mim, a banda mais portuguesa de Portugal: Gaiteiros de Lisboa.

Gaiteiros de Lisboa
"Sátiro"
CD BMG 2006



Têm já mais de uma década de trabalho e de desilusões, mas provam que estão para dar e durar porque gostam do que fazem e têm orelhas que apreciam o que "sopram". "Sátiro" foi gravado e, antes de ser editado, andou não sei quantos meses pelas colinas de Lisboa a errar. Ninguém queria lançar um bicho destes.

Gaiteiros de Lisboa mostram-nos com a sua música, a alma de um passado rural e citadino de séculos anteriores, mas também um espírito juvenil e criativo. Letras são do mais português que pode haver: a ruralidade, o satirismo, as tradições, a inconstância dos sentimentos. A música reúne o ritmo português, tambores em percussões variadas, tendo na parte "cantante" as gaitas de foles, a voz, bem como outros instrumentos de sopro como são os casos de clarinetes, saxofones e flauta.

"Sátiro", albúm editado a meio de 2006, mostra uns Gaiteiros de Lisboa plenos de vitalidade. Reafirmando, o seu som tem as características de um Portugal passado a pensar o presente e a refundar o futuro. Em certas "gaitadas" parece estarmos a ouvir jazz de fusão ou música clássica, noutras cremos estar no campo entre sonoridades da ceifa. São vários os temas de raiz popular que os Gaiteiros de Lisboa foram buscar desta vez: "Ai de mim tanta laranja", "As freiras de Santa Clara" e "Se fores ao mar pescar".

O urbano também marca com faixas como a de homenagem "Movimento Perpétuo" a Carlos Paredes ou com o "Os Versos Que te Fiz" cantado pela fadista Mafalda Arnauth.

Uma vez mais digo, a música portuguesa não morre enquanto houver quem goste de fazer de a ouvir. E quem fala em Gaiteiros de Lisboa, fala em muitos mais...