Nas apresentações das novas grelhas da Rádio Renascença e da TSF vejo algumas boas e más ideias. A serem postas em prática neste início de Outubro levar-me-ão, felizmente, a ouvir mais diversidade radiofónica. Hoje opino sobre…
Renascença, a rádio que teve um pássaro na mão e que o deixou voar.
A RR foi líder de audiências durante décadas. Há coisa de poucos anos, bem à portuguesa, decidiram dar azo a "estudos" de audiência. O panorama parecia negro: o público da rádio mais católica de Portugal era cada vez mais envelhecido. Urgia captar ouvintes mais jovens. Olharam para a RFM, playlist para a faixa etária dos 30-50 anos, e viram sucesso e novo modelo. Adoptaram-no. "Mais música (estrangeira), menos (rádio, isto é) palavra". Cortaram com a música portuguesa; com os pivots companheiros das manhãs e das tardes reduzindo-os a "vozes sorridentes" que repetem até à exaustão "temos a melhor música" e que interagem com o público com jogos tão bonitos como o "nem sim nem não" e fazendo a leitura das últimas anedotas que caíram no email. Intercalaram este modelo vencedor, na sua óptica, com a informação de cariz religioso, variada e a desportiva, vertentes ganhadoras do passado.
Em vez de procurar e conquistar ouvintes pela novidade e diferença, os "Miguel Angelos" e Da Vincis" da Renascença, tomaram a decisão mais cómoda: "vamos buscar público à RFM com o modelo que tem vencido desde os anos 80". O resultado está à vista, a sua rádio tem perdido audiência nos últimos trimestres. Tal é o desespero, que nos últimos meses no sítio da rádio abriu um espaço de nome "Consultor Renascença", no qual o ouvinte pode opinar sobre o figurino actual. O grupo que durante anos enfrentou e resistiu à indignação dos músicos nacionais, que com razão protestam contra a falta de música portuguesa nas rádios da companhia, admite agora que programar uma rádio não depende apenas de estudos estatísticos, duvidosos, nem de sábios de rádio.
Vendo o império a desmoronar-se a RR faz a jogada do costume, comunica a mudança e uma nova imagem. Mas falar em mudança, não implica que esta seja realizada. Novamente, afirma o desejo de conquistar públicos novos – os da faixa etária dos 35-54 – quer dar "mais música e menos palavra" aos ouvintes e mais humor. Com a nova imagem, vem a nova assinatura "a Boa Onda da Rádio", mas o produto não sofre alteração. Mesmo o apregoado "aumento de interactividade" já existia no "tomo" da Renascença. Com poupa e circunstância, apresentaram um programa novo e reafirmaram a linha que seguem há 5 anos.
Nem falemos da música que se passa. O ouvinte não é um vegetal mas as rádios com playlists rígidas e cansativas, como a RR e RFM, tratam-no como tal. Talvez por isso a rádio tem perdido ouvintes para podcasts e outros meios. Hoje em dia, novos públicos fazem os seus próprios canais de comunicação.
À Renascença não falta mais humor, mais música, mais interactividade. Falta melhor rádio. O público está cansado dos modelos que dominaram nos anos 80 e 90, prova é que a Rádio Comercial, embora dedicada a uma faixa etária menor, tem comido fatias de ouvintes à RFM… com mais humor, mais interactividade e mais música. Embora para faixas etárias diferentes, mas com uma cultura que vai de encontro ao seu público.
terça-feira, outubro 10, 2006
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