quarta-feira, dezembro 22, 2004

"Cozinho" para o povo

O encarte de 24 páginas que o Governo pagou para ser publicado em alguns jornais de hoje, é apenas mais um passo no inevitável "progresso" da imagem e palavra na política nacional. Obviamente que foi planeado anteriormente à sua dissolução, não é isso que está em causa. É a ânsia de estar sempre visível, de apresentar de justificar as acções antes darem resultado, ânsia que marca o estilo Santana Lopes. Em 4 meses no poder o seu Governo fez 2 comunicações ao país. A de Bagão e a sua que é já um marco da produção televisiva: foto do papa atrás; discurso onde mostrava uma viragem de 180 graus dos objectivos anteriormente traçados; a personalidade composta; etc. Para não falar já das vezes sem conta a que foram marcadas conferências às horas dos jornais, fenómeno não exclusivo a este primeiro ministro. Ainda ontem, Bagão e Santana abdicaram do seu almoço para falar ao povão sobre o deficit... afinal ainda não havia solução.

Não é nova a sua forma de agir com os cidadão. Parte dos outdoors de Lisboa continuam a ser "animados" com mensagens de cima (poder) para os governados.O novo é "Tunel do Marquês - Queriam acabar com ele. Nós vamos concluí-lo". O que eu gostei mais foi o que até há dias estava compôr as obras do Túnel. A tapar um cenário feio, de entranhas da terra reviradas que milhares de automobilistas viam por dia, tinhamos cartazes como "Lisboa - linda de se ver. Lisboa - linda para se morar. Lisboa - linda para se viver". E as obras coerecivas, lembram-se dos cartazes? Pois fiquem sabendo que houve dinheiro para meter essas fachadas, mas que não há obras a serem feitas pois... não há verba.

É verdade que os cidadãos estão cada vez menos informados sobre o que se passa na política. Diga-se, desligaram-se porque não acreditam nas pessoas que os governam. Não é com disponibilização de informação partidária que se aproximam. A solução é simples: resultados que sintamos na pele, sinceridade humana. Quem dá primasia à imagem, parte das vezes não tem ideias concretas.

O dinheiro que se gasta nestas charadas poderia bem ser empregue noutras causas. Portugal é um livre exemplo de dinheiro mal gasto. Municípios há que estão individados por terem gasto milhares de contos no desporto profissional. Não usámos os subsídios da UE para termos um país que podesse competir com outros parceiros que estavam, há 15 anos, ao nosso nível: Espanha, Irlanda, Grécia, etc...

Fora a comparação forçada, vejo na cada vez maior ânsia de quem nos governa, um apresentar do fútil de forma fútil na imprensa. Será um retrocesso a processos que cimentaram regimes ditatoriais europeus no século passado? O poder da imagem, dos rituais, a união em torno de simbolos e de um líder na terra. A lógica do pobrezinhos e pouco letrados, mas unidos, felizes e poupados.

Teremos o nosso Berlusconi em breve. Sei que é inevitável. É cada vez menor o espírito e acção crítica. Por outro lado, quando a lógica do populismo entra na governação é como o petróleo na pele, a lapa na rocha: fácil é entrar, difícil é sair.

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