quinta-feira, maio 03, 2007

Democracia às 20 horas

Se há fenómeno que, por mais tempo que passe, continuo a ser incapaz de compreender, é mesmo o da subserviência dos telejornais ao horário estabe- lecido pelos partidos. Como se a informação pudesse ser ordenada de fora para dentro das televisões, por dá cá aquela palha um líder político marca uma conferência de imprensa para as 20.00 - e os três canais abertos obedecem cegamente e transmitem em directo...

Pedro Rolo Duarte in DN - 21.03.2007

E dura, dura, dura. Como as pilhas duracell ou como o morfina. Quanto mais as televisões cedem, pior é.

Nestas últimas semanas foram, directos de candidatos ao poleiro no partido pequenino (PP), conferências sobre operações às carótidas, e agora essa temática tão importante aos 10 milhões de portugueses como é se Carmona fica ou não fica.

É com estas notícias que temos mais emprego, mais oportunidades, uma auto-estima revigorada enquanto país? Não, são informações que fazem de nós Portugal pasmacento de há décadas para cá.

Nunca me esqueço do rescaldo das últimas eleições autárquicas de Lisboa. A reacção de vitória de Carmona Rodrigues era oca. Dizia qualquer coisa como "ganhámos, agora vamos trabalhar em prol dos lisboetas". Traduzindo, "ok, esqueçam os sorrisos e as boas vontades expressas em campanha... o futuro é o que Deus quizer e logo o desenrascamos consoante a maré".

Cada vez mais a política é isto, um caminho traçado dia a dia consoante estímulos e oportunidades que pouco ou nada têm a ver com o que milhões de euros que a campanha faz.

Nesse sentido, a campanha de Sarkozy e Segolene só serve de uma coisa para mim: a inovação do marketing político. Assim como em todas as eleições americanas se inova na forma de convencer o voto, cada vez mais à força de orçamentos escandalosos, em França temos o mesmo em paralelo europeu. Haverá estudos interessantes a sair.

Sarkozy será assim tão sabedor e forte? Segolene será assim tão apática e incapaz de governar um país? Veja-se Angela Merkl, de quem se dizia que era uma choninhas sem mão para o poder. Hoje em dia, faz boa figura na Europa.

A imagem não é tudo, e as televisões continuam a cede-la a custo zero a pessoas, muitas vezes, incompetentes e responsáveis pelo nosso infortúnio.

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