Como nem tudo é belo, situações de conflito geram mortes indecentes e inocentes. Semanalmente morrem centenas de iraquianos em ataques terroristas. Se ainda há uma semana num só atentado foram despedaçados 125 corpos, ontem foram 45 que padeceram em Mossul. Conquanto, o mundo ocidental dá mais significado à morte de um agente secreto italiano. Como a digere? Promove-o a herói, a martir.
"Nicola Calipari mergulhou para cima de mim para me proteger e, imediatamente, e quero dizer imediatamente, senti o seu último suspiro quando ele morria sobre mim" disse Giuliana Sgrena, refém momentos antes.
A morte deu-se à passagem por um posto de controlo do Exército americano. A jornalista ficou ferida na clavícula e pulmão esquerdo e o agente dos serviços secretos Nicola Calipari, ao protege-la com o corpo, foi desta para "melhor" com um tiro na cabeça.
Para o comum cidadão são mortes trágicas. Para o responsável pelo envio de tropas, além de trágicas são indesejáveis. Não podem passar sem justificação, mortes que se deveram a opções de política externa e/ou interna. Fazem então o apelo à dimensão não palpável: os valores, a honradez, o divino.
Giuseppe Pisanu, o italiano Ministro do Interior, disse "estou certo de que os italianos honrarão a última contribuição para a nossa segurança, paga com dor e sangue pelos serviços secretos" outros dizem, em tradução livre, "a sua morte não foi em vão". São palavras que equivalem a 0 (zero) ao ser que perdeu a vida, mas também aos que não se revêem na abordagem ao problema Iraque. Talvez se sinta mais apaziguado, quem acredite na doce imagem da recompensa para "os bons": o além.
Para quem gere os problemas com armas, as vidas perdidas dos outros que o servem não são em vão. Sentadinhos nos seus gabinetes ou no tronos, reis; democratas; despotas ou ditadores geriram, e gerem, os suspiros dos seus subalternos. Raras vezes dão o corpo às balas.
Nicola Calipari fez o que um agente de segurança das suas características está treinado para fazer: tapou quem protege com o seu corpo. Acabou por morrer. Foi um acto profissional sem mácula, mas também um acto humano incrível.
O seu corpo, a sua carcaça foi recebida em Itália com emoção. Será condecorado a título postomo. Se fosse americano, as reacções seriam mais efusivas: multiplicariam-se em rituais em sua honra. Entre a Europa e o país "grande" do outro lado do Atlântico existem formas diferentes de manifestar o desagrado pela morte de um compatriota. Espanha não aceitou que um atentado de grande magnitude ficasse sem ser uma lição. Responsabilizou a política externa do seu governo: o apoio a uma guerra "preventiva" no Iraque. Não foram mortes heróicas, mas alteraram o curso da história.
Assim vamos conVivendo...
sexta-feira, março 11, 2005
Carcaça ou herói?
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