"Qual crítica literária? Oh Ana, existem 3 programas na TV portuguesa sobre livros. Nunca fui convidado para nenhum, por exemplo. A crítica literária fez comigo umas tréguas, digamos assim. Eu esclareci desde inicio que não sou escritor, sou um contador de histórias. Ainda não tenho estatuto para ser escritor. Ficaram mais sossegados porque se eu lhes tenho dito que sou escritor caiam-me todos em cima, aceitem-me como tal. Como eu disse "eu não pertenço à confraria (...) estou de fora. Aconteceu-me escrever um romance aí fizeram tréguas. Não vamos dizer mal, dizemos bem. Bestial!"
Miguel Sousa Tavares, Por outro lado / Ana Sousa Dias - Dois - 23.03.2005
Quem cria nunca tem boa relação com a crítica. Quer seja literária, quer seja musical ou outro tipo de arte, há sempre o atrito entre quem realiza e quem, sentado na cadeira munido de um cházinho, analisa em esboços aquele que foi o "suor", o prazer de outro.
O crítico será um jornalista a quem se dá a oportunidade de opinar. Larga o voto de objectividade, que poucos dão atenção, e entra no reino da subjectividade. É um estilo jornalístico sem escola, sem livros que o delimitem. É um ensaísta que se deixa guiar pelo seu conhecimento, bom senso e prática de escrita.
Os autores atingidos dizem que os críticos são escritores frustrados. É tão verdade como a famosa frase "eles estão com medo", dita por quem se sente ameaçado num espaço de poder.
Algumas críticas são justas. Margarida Rebelo Pinto não é um talento da escrita portuguesa. É escrita popular, no sentido de venda. Outras são despropositadas. Quando se mostra com muitas certezas, é sapiente ou, na maior parte das vezes, gosta de ser endeusado, é pouco humilde e conhecedor da realidade. É crítico que acredita poder dizer as barbaridades que lhe vier à cabeça pois o divino deu-lhe a missão de desconversar.
Descrever e comparar são as dimensões que nos podem fazer ver uma obra. Serão as melhor armas de um crítico de bom senso.
Fazem-se juízos de valor como se quem opina fosse proprietário da verdade. Uns são partidários de causas e outros de modas, mas ninguém tem a verdade na mão nem está suficientemente à frente do seu tempo cultural. Por exemplo, a Camões e Fernando Pessoa, não foi reconhecido valor por "compradres" do seu tempo.
A afirmação de Miguel Sousa Tavares bem que pode ser verdade. Em certas alturas o mercado une-se e homenageia determinado autor. Acontece na indústria audiovisual, musical, onde Grammies e Oscares valem muito... dinheiro. O mercado e o mediatismo também influenciam a arquitectura e pintura. Porque não semi-ignorar um autor que apresentou um trabalho de investigação esforçado numa boa escrita?
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